Por José Reinaldo Tavares
É muito difícil para qualquer um, por mais experiente que seja, falar de coisas em que não acredita. Acaba por se trair. Foi o que aconteceu com o experiente deputado Sarney Filho, quando tentava mostrar em discurso na Câmara que o Maranhão governado por sua irmã Roseana Sarney estava “bombando” de tanto progresso. No fim de sua fala, contudo, acabou cometendo um sintomático “ato falho”, usando o bom jargão psicanalítico, quando, muito empolgado, comparou o estado a um caminhão descendo uma ladeira. Sem freios, completou a oposição.
Tudo começou com uma palestra do ministro Ricardo Paes de Barros em São Luís, formulada para tentar atender a uma solicitação do senador José Sarney, que busca há tempos uma desculpa para a terrível situação do Maranhão, pior estado da federação em todos os parâmetros sociais. O ministro é persona mui grata, velho colaborador da família, para quem trabalhou como consultor contratado por diversas vezes.
Com efeito, Paes de Barros na verdade fez uma análise de pretensos resultados da Bolsa Família, programa inteiramente do governo federal. E passou por cima de uma polêmica, ao afirmar que uma renda de R$ 70 por mês tira o cidadão da extrema pobreza. Esse dado não é muito bem aceito pelos estudiosos, já que é oriundo de uma leitura ultrapassada de uma definição dada pela ONU, em que uma renda de 50 dólares por mês separaria a extrema pobreza da pobreza. O problema é que, quando isso foi estabelecido, a quantia de cinquenta dólares equivalia a R$ 70 e nunca mais foi corrigido ou atualizado. Se fosse, esse valor seria de R$ 110, já que o dólar equivale hoje a mais ou menos R$ 2,20.
Resultado disso é que muitas dessas pessoas na verdade continuavam na situação de pobreza absoluta e estariam ganhando com o Bolsa Família menos que o equivalente aos cinquenta dólares, comparados ao paradigma dos R$ 70 que querem passar-nos como verdade.
Apenas marketing. A situação não se alterou em nada porque os indicadores não mudaram. É incrível a falta de seriedade que domina o país. Se não concordar, tente viver com R$ 70 por mês…
Vejam o que disse um grande estudioso do assunto ao tomar conhecimento desse discurso:
“Ricardo Paes, se fez um pronunciamento desses, está muito mais preocupado é em preservar o emprego. Uma pena que use a inteligência para mostrar informações que não encontramos. Não sei de onde saíram essas informações. A Pnad não desce a detalhes assim. Informações de municípios somente são disponíveis nos Censos Demográficos. E lá, mostra a realidade que lhe passei naquele texto que vai ser publicado em livro. O rapaz, deputado, está delirando. O amigo conhece melhor esses números de estradas e de hospitais do que eu e tem mostrado que tudo isso não passa de falácia. Dois leitos por mil habitantes é delírio. Até porque os hospitais quando foram construídos, não têm como funcionar.
Ele fala no potencial agrícola do Maranhão, mas a secretaria que trata da agricultura familiar virou penduricalho de uma Secretaria de Ação Social e os agrônomos, veterinários e técnicos agrícolas passam o tempo todo cadastrando pessoas para o Bolsa Família. Assistência técnica inexiste. Produção de alimentos em curva descendente.
Agora os culpados pelo atraso do Maranhão são os cearenses, paraibanos, baianos, potiguares que migraram para aí por causa da seca. Isso aconteceu ainda nos anos 1960 e 70. Agora são os maranhenses que abandonam o estado. Um desfile de fantasias.”
É isso que dar tentar criar factoides e pretensas estatísticas a favor de uma tese. O senador José Sarney luta desesperadamente para conseguir mostrar – na televisão, pelo menos – que o Maranhão está muito bem e que o que é divulgado pelo IBGE, Ipea, Pnad, Enem, Ideb etc. é apenas uma formidável invenção da oposição do Maranhão. Não dá, senador, porque em nenhum dos dados estatísticos disponíveis existe qualquer base para afirmações como essa de Ricardo Paes de Barros! Para isso é preciso trabalhar, ter projetos, planos, desejo de mudar. Coisa inexistente no governo de Roseana.
Na verdade, todos sabem, é apenas mais uma tentativa de mostrar um Maranhão que não existe. E, se não existe, é porque sufocaram o estado trazendo para cá uma política de dominação e medo. Acharam que isso seria suficiente, já que são donos de poderoso sistema de comunicação. E nunca tentaram ao menos conhecer e estudar os nossos problemas, para que pudessem mudar essa realidade.
Enfim, falando da realidade, ela é mesmo tal qual a que o deputado Sarney Filho descreveu no seu ato falho. Estamos cada vez mais descendo a ladeira, cada vez piores e mais pobres. Foi apenas uma coisa ridícula.
E para concluir, denuncio mais uma vez o gravíssimo problema da falência da segurança no Maranhão. Já aconteceu o que todos temiam: no mês de outubro o número de assassinatos na região metropolitana, não só atingiu o número cem, mas ultrapassou por larga margem, chegando a cento e oito mortes violentas. Uma corrida macabra patrocinada pelo governo do Estado que, para não deixar dúvidas de sua irresponsabilidade, corta profundamente o orçamento da Segurança Pública para 2014. Será que não conseguem enxergar as coisas estapafúrdias que fazem? Se este fosse um governo responsável, veríamos números aumentados e atitudes condizentes.
É caso perdido mesmo.
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